quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Lembra daquela?

Ele sentou naquele banquinho de madeira, puxou o violão e arriscou alguns acordes. Fazia tempo, parecia doer o esforço que fazia para lembrar algumas notas. Me olhou e sorriu. Pediu desculpas pela demora.
Acontece que eu queria uma velha moda, lá do fundo do baú, daqueles tempos que tocávamos naquele quintal, esperando o almoço. Tentei dar alguns toques: "Lembra? O Luciano e o cumpadre Zé estavam lá". Mas lhe custava lembrar. Eu, sentado, esperava esperançoso.
Aos poucos ele tocava algumas modas, contava histórias de seus tempos de moleque e passava a mão na cabeça.
Me divertia com algumas músicas que saiam hora e outra, mas não era o que eu queria. Porém não iria sair da frente dele, adorava escutar seus contos de infância, enquanto seus dedos deslizavam pelas cordas. Desde que era um garoto adorava compartilhar estes momentos com ele. E parecia que iria demorar.
Se impressionou. Não acreditava que eu conseguia lembrar de algo que se passou a 14 anos atrás. Deu algumas risadas comigo. Ficava contente de vê-lo sorrir, cantar, tocar, relembrar.
Decidi ir tomar algo. No meio do caminho, uma melodia ecoou de maneira doce. Já sabia, era ele. De algum jeito ele lembrou, não sei explicar como. Os olhos estavam marejados, parecia ser o mesmo de anos atrás, com a mesma habilidade. Puxei alguma batida sofisticada e então tocamos pelo resto do dia.
Se eu prometo que voltarei? Mas é claro, afinal não é todos os dias que podemos ter uma sessão como esta.
( Ao eterno mentor )

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Nos tempos do samba e das modas

Velhos tempos e viagens constantes para Osasco, São Paulo. Quando meu pai falava que iríamos visitar minha tia, eu logo abria um sorriso tímido. Ficava inquieto no carro, perguntando de modas de viola e rodas de samba. A casa da minha tia era uma espécie de playground. Tinha música pra todos os mais variados gostos. Era lá que escutava os primeiros discos dos Rolling Stones. Quando chegava lá não queria saber de outra coisa a não ser ir para o bar da rua de cima. Acontece que lá se encontravam violeiros e sambistas em dias alternados. Comecei a frequentar com meu pai quando era um garoto levado de 8 anos. Os olhos brilhavam diante de tantas proezas na viola, improvisos e sorrisos dos mais animados. Quando tinha uma roda de samba, eu dividia uma atenção minunciosa entre a vela no meio da roda e o maravilhoso samba que era construído. Quando a vela acabava, o samba também se findava, sem mais palavras.
Ainda lembro de velhos amigos de lá, Zé Tijuca, Paulistinha, muitos outros. Ganhei também meu apelido: o Galeguinho.
Passou algum tempo e queria participar de tudo aquilo. Eu comecei com a percussão. Bongôs, congas e pandeiros. Tocava eu do lado do Zé Tijuca, e como tocava esse Zé, incrível nas congas e no pandeiro. E como se esquecer do Joca Chorão. Tocava um violão como ninguém, era um especialista em cordas. O apelido "Chorão" veio de um dia que ele tocou um acorde tão belo que deixou uma lágrima rolar. E muitos outros malandros conheci.
Nas modas de viola não era diferente. Lá meu pai mostrava talento, já que adorava uma boa música caipira de raiz. E sempre estava lá.
Hoje é mais complicado passar por lá, mas aqui dentro deste peito ficaram as saudades, saudades do garoto peralta que assistia atento, sempre querendo aprender algo mais.
Prometo que ainda volto lá para um bom improviso, desde que exista um bom tema é claro. E para uma boa moda de viola, vou acompanhar com todo prazer.
(Em memória do Zé Tijuca, grande)

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Paquera na academia

Muitos dizem que o melhor local para um flerte é a balada, outros afirmam que não há nada melhor do que um barzinho. Ao observar alunos e professores de uma academia em Santo André, tirei conclusões rápidas: a academia é um local badaladíssimo para paqueradores de plantão.
Com sua calça legging, pronta para atear fogo nos rapazes mais aflitos, a loira está com problemas para levantar a barra de peso. O musculoso ao lado presta atenção em cada movimento, é cauteloso e perspicaz. Logo ele se oferece para ajudar e já puxa um assunto que formulou à exatos momentos atrás. Ela dá um sorriso, o que mostra que o galanteador está no caminho certo. Papo vai, papo vem, a tigela de açaí acaba e os dois saem juntos. Depois disso só Deus sabe as peripécias pelas quais passaram.
Os professores também não fogem da brincadeira do amor. Eles levam mais vantagens por entenderem tudo sobre ginásticas, aquecimentos e afins. Uma mulher que já aparentava uns 40 anos se derretia para o lado do 'profi', como ela o chamava com tal ternura.
E as gordinhas não ficam para trás. Ao contrário, atacavam suas presas com ferocidade. No ritmo das músicas eletrônicas que rolavam na rádio FM, elas fazem suas aulas de Body Combat já olhando o moço lá na frente, como se este fosse um delicioso quindim. Quando o show termina, elas se atracam aos abraços com o cobiçado do dia. Sorte a deles.
Não tem como fugir do luxo, daquela olhadinha para o lado, aquela conversa mais descontraída, a brincadeirinha de apertar a barriga do parceiro de aula. Muitos relatam que a 'pegação rola solta'. Além disto, existem muitas histórias que não devem ser relatadas (talvez em outra oportunidade).
A barra de cereais está acabando e tenho que voltar para a sessão de esteira. E que a paquera continue rolando solta, afinal, os musculosos também amam.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Entre pokémons e negócios


Que a série pokémon, criada por Satoshi Tajiri, foi uma das maiores fontes de lucro da empresa Nintendo ninguém pode discutir. A febre dos monstrinhos no oriente e ocidente realmente foi um surto (deixou para trás a fraca gripe suína). Criancinhas pediam mais e mais. Bonecos, lancheiras, pelúcias e um pelotão de produtos. Quando se notava lá estava o selo dourado: "Nintendo". Os games dos montrinhos de bolso vieram primeiro, estreando no Game boy, console portátil. A venda de todos os jogos lançados até agora ultrapassam a casa dos 180 milhões de unidades vendidas.
O primeiro cartucho de pokémon que tive em mãos foi a versão "yellow", na qual o simpático Pikachu segue você o tempo todo. No começo apanhei um pouco, mas foi apenas questão de semanas para aquilo se tornar um vício. Capturar, lutar, capturar, ganhar insígnias e capturar mais um pouco, esse era o estilo. A garotada ficava fissurada na escola com cards, figurinhas e game boys. O pau comia mais solto ainda quando pintava um cabo link, que podia conectar dois videogames para batalhas insanas.
Enquanto os olhos de crianças (e adultos, acreditem se quiser) brilhavam com aquela nova cultura pop, a Nintendo enchia os cofrinhos com bilhões e bilhões. Surgiram concorrentes, a exemplo dos Digimons, no entanto não tiveram um impacto semelhante. Nada se comparava aos cinemas lotados quando lançava o primeiro filme.
Hoje, a série Pokémon perdeu as forças, embora os games continuem sumindo das prateleiras. O pessoal da velha guarda afirma que pokémon deveria ter acabado na segunda temporada. Outros afirmam que a série deveria acabar depois da primeira fase e depois ser eternizada. Fato é que, a série ainda existe e agora quem exibe é a RedeTv, que chegou a reprisar os episódios antigos (para aqueles que gostam de uma boa nostalgia). Mesmo sem o mesmo brilho de antigamente, a margem de lucro tem que permanecer. O negócio é: "TEMOS QUE PEGAR, TEMOS QUE PEGAR!!!"

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Merda e lagosta

Havia uma época em que a humanidade sonhava em ler as estrelas, hoje em dia nós estamos prontos até mesmo para as guerras. Alguns mentiram e ficaram famosos, a causa de muitos conflitos na humanidade. Um disse a verdade e foi punido e crucificado.
O que é certo o que é errado? Posso prevenir, posso ser forte? Rápido o suficiente para fugir ou corajoso o suficiente para ficar aqui?
Alguns ganham merda e alguns ganham lagosta, leve meu rabo para o sol. Demora algum tempo para perceber que não podemos comer uma arma. O gordo engorda e o pobre continua pobre, aquele que faz dinheiro vende a pele, mas você não pergunta e você não vê o mundo no qual vive.
Tenho meus temores e minhas dúvidas. Apenas diga-me o que tudo isso significa.
Eu deveria tentar um primeiro passo ou deveria ficar e esperar outro dia...

...

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Quando o adultério é inevitável

O atacadão é sempre muito movimentado. Ali é cara a tapa, é para quem procura diversão e uma boa noite de farra. O lugar chama a atenção com grandes cartazes, exibindo as mais variadas mulheres: morenas, ruivas, mulatas, loiras e até as cobiçadissímas orientais. Vários entram sem receio algum. O segurança, um armário de singelos 1,95 de altura, já exerce também uma função de dar as boas vindas.
Nunca me arrisquei, prefiro ficar do lado de fora e comer algum prato bem apimentado. Executivos não desperdiçam a chance de quebrar um pouco a rotina. Parece que para eles chegar em casa e ver a mesma mulher de sempre é entediante. Porém não querem uma separação, pois a responsabilidade seria enorme: papeladas, processos e a temida pensão alimentícia. Por isso toda cautela é pouca demais. É necessário se camuflar feito um camaleão. Uns são desajeitados por demais e demonstram muito nervoso estampado cara.
Logo imaginei um pastor evangélico na porta, indagando se o que está para ser feito é realmente correto. Seria útil, uma dúvida dessas não é para se ignorar. Afinal Deus pode lhe perdoar a qualquer momento. Não quero julgar ninguém e nem sou um fanático religioso.
Lá veio ele, um gordinho dos bem atrapalhados. Veio a passos largos, velozes, vinha com muita sede de uma boa safadeza. Tentava tirar a aliança dourada da sua mão esquerda: sim, ele era bem casado. A aliança caiu no chão e ele se agachou desesperado, apalpando cada centímetro daquele chão imundo. Conseguiu encontrar e soltou um suspiro aliviado. Olhou para frente e o corredor do atacadão o encarava novamente. segiu em frente, já estava ali mesmo e não iria perder viagem, de jeito nenhum. Chegou bem perto, mas um imã parecia o puxar para o lado de fora. Chegou a aparentar até um pouco de medo. Parecia ver todos os fantasmas que "atormentavam" sua vida.
Logo lembrei de um amigo de velhos tempos, Silvio. Se dizia um mulherengo de primeira, embora suas histórias sempre fossem malucas e manjadas. Ele era casado e tinha até um filho. Mesmo assim ele jurava de pés juntos que traía sua mulher constantemente. Por que essa necessidade de jurar com tanto fervor? Machismo? Necessidade de mostrar que não perdeu o faro? Ou a decepção de ter uma sogra terrível, que leva uma espingarda a cada jantar de família na esperança de matá-lo. Nunca descobri a resposta para este enigma sem fim. Nem mesmo matemáticas exatas ou a ciência mais avançada pode descobrir a resposta. Será que esta é tão difícil de se encontrar?
A verdade parece ser que o homem não quer ser preso nos cativeiros do matrimônio. E o nosso amigo que estava na portaria de toda aquela lúxuria, tinha receios. Cheguei mais perto, de maneira discreta e puxei assunto, abordando o imenso cartaz com dançarinas. Ele desabafou com sorriso na cara. "A sogra enche o saco, a mulher enche o saco e sempre é a mesma coisa, TO CANSADO", foram suas palavras. Mesmo com três filhos o cara tinha que entrar naquele lugar, era necessidade. Nada poderia impedir. Vá com fé.
Infelizmente a rotina pega alguns de surpresa. Trabalho, correria, casa, janta, criançada, acordar, mais trabalho, ligação da mulher para colocar o garotinho na escola particular, casa e sempre o mesmo ciclo. Talvez neste momento o homem encontre respostas em outros relacionamentos ou em casas de facilidades. Ou uma resposta mais simples: não estava preparado para o casamento. Ou até mesmo a tentativa de estabelecer uma poligamia (!). Fato é: o adultério é uma prática universal, mesmo sendo condenado pelas instituições mais ortodoxas e este não irá acabar tão cedo. A humanidade se sente melhor com a traição presa ao pé, tanto mulheres como homens.

domingo, 26 de abril de 2009

Luta contra obesidade infantil: agora vai?

A deputada Patrícia Lima (PL), pretende acabar com a festa da garotada das escolas de São Paulo. Ela apresentou um projeto bem ousado ao ponto de vista da meninada: proibir a venda de iguarias como famosa coxinha de frango, petiscos folheados de presunto e queijo, refrigerantes e até mesmo balinhas e chicletes em cantinas escolares. A aprovação do tal projeto só depende agora do governador José Serra.
O desespero bate na porta dos gordinhos, e os magrinhos também se preocupam. Agora só um lanchinho natural, um suco de laranja podem ser pedidos na hora do lanche. Os doces vão para o banco de reservas. As titulares absolutas serão as frutas. Uma maçã, banana, ou até mesmo um time completo: a tradicional salada de frutas. A revolta estudantil vai crescendo. Os estabelecimentos localizados dentro das escolas que descumprirem as regras serão multados. E o valor da multa não é nada baixo: ultrapassa a casa dos mil.
Pois é, os dias estão contados para os deliciosos salgadinhos. Mas eu me pergunto: será que esta iniciativa vai conseguir combater problemas como obesidade, diabetes entre outros. Quem vai garantir que a criança ou adolescente não vai levar um saquinho de batatas Elma chips e uma lata de Coca Cola na mochila. O projeto é bom e nada descartável. Porém, os pais vão ter que dar uma dura nos filhos também.
Para os mais desesperados, a cada esquina tem um bar que disponibiliza a venda da coxinha, do bauruzinho e os perigosos bolovos ( o senhor Paulo de um boteco de Piraporinha que o diga). Fico por aqui agora, apreciando meu bolinho de queijo e uma garrafa 600ml de Kuat.


Foto: Edilson Jr.