segunda-feira, 8 de junho de 2009

Quando o adultério é inevitável

O atacadão é sempre muito movimentado. Ali é cara a tapa, é para quem procura diversão e uma boa noite de farra. O lugar chama a atenção com grandes cartazes, exibindo as mais variadas mulheres: morenas, ruivas, mulatas, loiras e até as cobiçadissímas orientais. Vários entram sem receio algum. O segurança, um armário de singelos 1,95 de altura, já exerce também uma função de dar as boas vindas.
Nunca me arrisquei, prefiro ficar do lado de fora e comer algum prato bem apimentado. Executivos não desperdiçam a chance de quebrar um pouco a rotina. Parece que para eles chegar em casa e ver a mesma mulher de sempre é entediante. Porém não querem uma separação, pois a responsabilidade seria enorme: papeladas, processos e a temida pensão alimentícia. Por isso toda cautela é pouca demais. É necessário se camuflar feito um camaleão. Uns são desajeitados por demais e demonstram muito nervoso estampado cara.
Logo imaginei um pastor evangélico na porta, indagando se o que está para ser feito é realmente correto. Seria útil, uma dúvida dessas não é para se ignorar. Afinal Deus pode lhe perdoar a qualquer momento. Não quero julgar ninguém e nem sou um fanático religioso.
Lá veio ele, um gordinho dos bem atrapalhados. Veio a passos largos, velozes, vinha com muita sede de uma boa safadeza. Tentava tirar a aliança dourada da sua mão esquerda: sim, ele era bem casado. A aliança caiu no chão e ele se agachou desesperado, apalpando cada centímetro daquele chão imundo. Conseguiu encontrar e soltou um suspiro aliviado. Olhou para frente e o corredor do atacadão o encarava novamente. segiu em frente, já estava ali mesmo e não iria perder viagem, de jeito nenhum. Chegou bem perto, mas um imã parecia o puxar para o lado de fora. Chegou a aparentar até um pouco de medo. Parecia ver todos os fantasmas que "atormentavam" sua vida.
Logo lembrei de um amigo de velhos tempos, Silvio. Se dizia um mulherengo de primeira, embora suas histórias sempre fossem malucas e manjadas. Ele era casado e tinha até um filho. Mesmo assim ele jurava de pés juntos que traía sua mulher constantemente. Por que essa necessidade de jurar com tanto fervor? Machismo? Necessidade de mostrar que não perdeu o faro? Ou a decepção de ter uma sogra terrível, que leva uma espingarda a cada jantar de família na esperança de matá-lo. Nunca descobri a resposta para este enigma sem fim. Nem mesmo matemáticas exatas ou a ciência mais avançada pode descobrir a resposta. Será que esta é tão difícil de se encontrar?
A verdade parece ser que o homem não quer ser preso nos cativeiros do matrimônio. E o nosso amigo que estava na portaria de toda aquela lúxuria, tinha receios. Cheguei mais perto, de maneira discreta e puxei assunto, abordando o imenso cartaz com dançarinas. Ele desabafou com sorriso na cara. "A sogra enche o saco, a mulher enche o saco e sempre é a mesma coisa, TO CANSADO", foram suas palavras. Mesmo com três filhos o cara tinha que entrar naquele lugar, era necessidade. Nada poderia impedir. Vá com fé.
Infelizmente a rotina pega alguns de surpresa. Trabalho, correria, casa, janta, criançada, acordar, mais trabalho, ligação da mulher para colocar o garotinho na escola particular, casa e sempre o mesmo ciclo. Talvez neste momento o homem encontre respostas em outros relacionamentos ou em casas de facilidades. Ou uma resposta mais simples: não estava preparado para o casamento. Ou até mesmo a tentativa de estabelecer uma poligamia (!). Fato é: o adultério é uma prática universal, mesmo sendo condenado pelas instituições mais ortodoxas e este não irá acabar tão cedo. A humanidade se sente melhor com a traição presa ao pé, tanto mulheres como homens.

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