quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Lembra daquela?

Ele sentou naquele banquinho de madeira, puxou o violão e arriscou alguns acordes. Fazia tempo, parecia doer o esforço que fazia para lembrar algumas notas. Me olhou e sorriu. Pediu desculpas pela demora.
Acontece que eu queria uma velha moda, lá do fundo do baú, daqueles tempos que tocávamos naquele quintal, esperando o almoço. Tentei dar alguns toques: "Lembra? O Luciano e o cumpadre Zé estavam lá". Mas lhe custava lembrar. Eu, sentado, esperava esperançoso.
Aos poucos ele tocava algumas modas, contava histórias de seus tempos de moleque e passava a mão na cabeça.
Me divertia com algumas músicas que saiam hora e outra, mas não era o que eu queria. Porém não iria sair da frente dele, adorava escutar seus contos de infância, enquanto seus dedos deslizavam pelas cordas. Desde que era um garoto adorava compartilhar estes momentos com ele. E parecia que iria demorar.
Se impressionou. Não acreditava que eu conseguia lembrar de algo que se passou a 14 anos atrás. Deu algumas risadas comigo. Ficava contente de vê-lo sorrir, cantar, tocar, relembrar.
Decidi ir tomar algo. No meio do caminho, uma melodia ecoou de maneira doce. Já sabia, era ele. De algum jeito ele lembrou, não sei explicar como. Os olhos estavam marejados, parecia ser o mesmo de anos atrás, com a mesma habilidade. Puxei alguma batida sofisticada e então tocamos pelo resto do dia.
Se eu prometo que voltarei? Mas é claro, afinal não é todos os dias que podemos ter uma sessão como esta.
( Ao eterno mentor )

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